exame e exploração da costa do sul de Benguella, e empregado na 
repressão de um trafico illicito, que os habitos inveterados, e a falta de 
boa direcção administrativa faziam parecer impossivel evitar, trafico 
que a philosophia e a humanidade condemnam, e que o proprio 
interesse commercial começa hoje a considerar insensato e ruinoso; vós, 
que o vistes commandando a Estação Naval, e organisando 
estabelecimentos uteis e indispensaveis, a cuja creação se não 
abalançára a previdencia e zêlo das primeiras auctoridades da Provincia, 
direis que ninguem poderia vir balbuciar uma accusação aos pés deste 
feretro, murmurar uma pequena queixa que possa embaciar o lustre de
tão honrada memoria[6]. 
Mal repousava destes trabalhos, e da penosa commissão que o levára ás 
praias da Bahia, aonde a sua firmeza e prudencia foram dignas do 
antigo nome portuguez, e já a confiança do Governo abria um campo 
mais dilatado ao incansavel espirito do Sr. Pedro Alexandrino da 
Cunha, nomeando-o Governador Geral desta Provincia[7]. 
Era honroso o encargo de governar tão bella possessão, mas era dificil 
pela conjunctura de transição commercial violenta, e não preparada, 
mais difficil pelas más praticas que era forçoso desarreigar, difficilimo 
finalmente pelos illustres predecessores, que honram a extensa lista dos 
Capitães Generaes do Reino d'Angola[8]. 
Que animo não tremeria de desembarcar nas praias conquistadas por 
Paulo Dias de Novaes para cingir a nobre espada de Salvador Corrêa, 
para succeder a Manoel da Cerveira Pereira, o conquistador de 
Benguella, a João Fernandes Vieira, e a André Vidal de Negreiros, 
heroicos deffensores do Brazil contra os hollandezes, a D. Francisco 
Innocencio de Souza Coutinho, a quem esta Colonia deve os seus 
principaes estabelecimentos publicos, e a creação de estudos superiores 
que são ainda hoje objecto da saudade de todos os homens intelligentes, 
para succeder emfim ao Conde de Porto Santo, a D. Miguel Antonio de 
Mello, aos Almeidas, aos Vasconcellos, aos Menezes, e aos Tavoras? 
Conhecia-o bem o Sr. Pedro Alexandrino da Cunha, e soube pôr tal 
esforço e constancia em desempenhar tão elevada missão, que o seu 
governo será contado sempre entre os que mais concorreram para a 
felicidade desta Provincia. 
Talvez não eram passadas vinte e quatro horas desde que começára a 
governar, e já a principal fonte da receita publica estava 
providentemente entregue á vasta intelligencia, e recta severidade de 
um mancebo, cuja perda ainda ha pouco chorámos, e que foi já 
reunir-se com elle na morada dos justos[9]. 
A organisação das pautas[10], a subordinação dos empregados 
discolos[11], a reforma do Terreiro[12], o regulamento das Cadeias[13],
o fomento da cultura do algodão, e o do aproveitamento das mais 
plantas uteis e medicamentosas que vegetam e crescem 
espontaneamente no solo d'Africa[14], a plantação de arvores[15], o 
aceio da Cidade[16], o cuidado de preservar a tropa da chuva e dos 
ardores do sol[17], as estradas[18], a instrucção publica[19], e 
finalmente a creação da Imprensa, primeiro elemento de civilisação 
material e moral[20], mereceram logo a sua mais minuciosa attenção, e 
os documentos officiaes do seu governo mostram um certo movimento 
civilisador, administrativo, e até certo ponto artistico e professional, 
que a Provincia nunca presenciára. 
E o homem que lançou nesta terra os primeiros fundamentos da 
administração publica, que procurou dar ao commercio uma direcção 
util para as grandes emprezas agricolas e industriaes, que descia com 
igual aptidão das mais intrincadas questões de um direito 
administrativo indefinido, e mais consuetudinario que legal, ao detido 
exame dos trabalhos do artista, do maquinista, do agricultor, o homem 
cuja gravidade bastou sem grandes correcções a moralisar 
completamente todas as repartições do Estado, e cuja prudencia e 
rectidão admiraram os proprios estrangeiros a ponto de o fazerem 
constar perante quem nunca achára senão motivos para o louvar e 
engrandecer nos seus Decretos[21]; era ao mesmo tempo de uma 
espantosa simplicidade nas exigencias externas da grandeza, e de uma 
exemplarissima modestia. 
O Sr. Pedro Alexandrino da Cunha, não pôde no curto espaço do seu 
governo levar ao cabo muitos dos generosos pensamentos de 
civilisação, e de desenvolvimento material e moral que meditava, e não 
lhe faltaram nesse periodo aquellas penosas atribulações que são o 
apanagio certo dos cargos mais elevados. 
As lutas civis de Portugal arrojaram a estas praias em situação bem 
lamentavel caracteres illustres, camaradas seus, e talvez... de certo 
amigos e companheiros de combates, de perigos, e de gloria. Vinha 
entre elles o Chefe do Estado Maior de Sua Magestade Imperial o 
Duque de Bragança[22]. 
O Sr. Pedro Alexandrino da Cunha, sem desviar-se da proverbial
severidade com que comprehendia o serviço publico, soube, quanto lhe 
era permittido, haver-se no cumprimento das suas obrigações por tal 
maneira, que foi uma das victimas dessa triste desventura, quem vos 
convidou a orar hoje neste Templo pela alma daquelle illustre 
finado[23]. 
Amarga conjunctura para o Sr. Pedro Alexandrino da Cunha; prova 
durissima ainda para um coração que podesse ser indifferente á 
infelicidade dos    
    
		
	
	
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